sábado, 8 de janeiro de 2011




Queres ser curado? Cura interior pela palavra de Deus Jo 5. 1-9

Sempre pensamos naquilo que Deus tem para nós (Jr 29.11), mas podemos nos espantar ao descobrir que esses planos podem não sair do papel, e isso acontecerá se nossa vontade estiver em oposição à vontade de Deus. É comum o contraste entre a vida que levamos e àquela que Deus gostaria que levássemos.

Diante do propósito de Deus para o ser humano a pergunta feita ao paralitico “Queres ser curado?” é bem atual, relevante e desafiadora. Mas porquê? Jesus com está pergunta quer chamar a atenção não somente para o propósito que ele tem [de curar o ser humano], mas para vontade humana de cura. Por mais obvio que pareça para alguém paralítico o desejo de cura, talvez esse desejo possa não existir de fato. Vamos analisar esta história!

O texto fala de um homem que estava a 38 anos naquela situação [paralitico], ele era levado todos os dias ao pavilhão de Betesda, onde aguardava a possibilidade de ser curado, Betesda (em hebraico, Beth-Hesed: casa de misericórdia) era um dos lugares mais importantes e freqüentados de Jerusalém, seus tanques muito antigos, eram tradicionalmente usados pelos peregrinos em rituais de purificação. Ao seu redor, Herodes, o Grande, construíra cinco varandas com capacidade para acomodar um grande número de pessoas. A respeito daquele conjunto arquitetônico formado por tanques e pórticos (local coberto à entrada de um edifício, como um pátio), os judeus contavam muitas histórias. Uma lenda divulgada pelos essênios (grupo religioso-politico judaico) dizia que havia valiosos tesouros escondidos sob a piscina de Betesda.

Acreditava-se também que a descida ocasional de um anjo àquelas águas tinha um poder miraculoso, livrando de qualquer doença aquele que imediatamente se jogasse nela. Isto atraia àquele lugar mendigos e doentes na busca de cura, entretanto como apenas só podia ser curada uma pessoa de cada vez, a ida até lá para muitos se revelara uma decepção. No fim do dia, cegos voltavam tateando, coxos acomodavam-se no chão duro para dormir. Curas milagrosas apareciam vez ou outra, mas doença e sofrimento, todos os dias.

Muitas pessoas buscam hoje a cura para seus sofrimentos, buscam serem saradas e felizes, por várias formas: umbanda, drogas, psiquiatras, remédios controlados, buscam conselhos em livros, palestras, realizam sacrifícios, fazem promessas, mas no fim ainda permanecem doentes e infelizes. Muitas pessoas recorrem a Igreja como uma “casa de misericórdia espiritual”, mas assim como o paralitico, permanecem a anos na mesma situação, e presenciam uma cura aqui outra ali na vida de outros irmãos.
O Senhor percebe quando uma pessoa passa por um problema e necessita de ajuda e amor, ao ver aquele homem deitado no chão, logo soube “que estava assim a muito tempo” (v.6). Ele sempre sabe. E diante disto fez uma pergunta desconcertante “queres ser curado?” a gente poderia pensar é claro que quero, mas que pergunta idiota! ¬¬°

Mas a vontade de ser curado não era tão evidente como poderia se imaginar, tanto que ele não respondeu logo com um “SIM” alto e sonoro, mas passou a fazer lamentações “Senhor, não tenho ninguém que me ponha no tanque, quando a água é agitada, pois enquanto eu vou, desce outro antes de mim” (v.7). Quando Jesus perguntou ao cego de Jericó o que ele queria que o fizesse (aparentemente obvio também), ele responde “Senhor, que eu torne a ver” (Lc 18.41). Mas o paralitico viu obstáculos intransponíveis. Daquela resposta se conclui que ele era muito infeliz e culpava os outros por isso. Na verdade, ele era o único responsável por sua dor e sofrimento. Numa conversa posterior com ele Jesus revelou isso “mas tarde Jesus o encontrou no templo e lhe disse: Olha que já estás curado, não peques mais, para que não te suceda coisa pior” (v.14).

A enfermidade que ele tinha a 38 anos era resultado de faltas que cometera (Atenção! Isso não quer dizer que toda doença é resultado de pecado, mas nesse caso especifico é). Mas longe de enxergar em si mesmo a causa dos seus problemas, ele lançava a responsabilidade sobre as pessoas ao redor. Os culpados eram os amigos que o abandonaram “Senhor, não tenho ninguém que me ponha no tanque” e os outros doentes que o antecediam na piscina “enquanto eu vou, desce outro antes de mim”. Ele não enxergava os outros enfermos como companheiros e sim como um infortúnio, concorrentes da mesma benção, quando pode andar não voltou para ajudá-los.
Muitas vezes nos colocamos de vitimas indefesas das circunstâncias, o pior é que acreditamos mesmo nisso, sentimo-nos prejudicados e injustiçados, a verdade é que se continuarmos a pensar assim nunca experimentaremos uma mudança significativa em nós. Aquele paralitico se considerava uma vitima inocente da maldade e do descaso da humanidade. Isso o poupava de lutar com sua consciência, mas também o privava da vitória.

Uma segunda conclusão sobre ele era: ele não estava inteiramente disposto a abrir mão de sua enfermidade. Acostumara-se com ela, embora fosse dolorosa, aprendera a explorá-la, como tantos fazem hoje. No antigo oriente, mendigar podia ser um bom negócio, principalmente em Jerusalém. Pelos costumes da época, todos os judeus deveriam ir à cidade santa ao menos uma vez por ano. Entregavam o dízimo dos seus rendimentos no templo e gastavam o “segundo dízimo” em compras e esmolas para os pobres. Assim os pedintes eram razoavelmente bem sucedidos. Podiam até mesmo ter mais dinheiro no banco, do que um trabalhador local, e mendigar era a única coisa que aquele enfermo por 38 anos sabia fazer, garantia-lhe sustento e uma rotina previsível. Mas agora curado ele não poderia mais sobreviver disso, teria de trabalhar, ele não sabia fazer nada! Por isso o paralitico no fundo não ficou muito grato pelo o que Jesus fez, chegou até a denunciá-lo aos farizeus “O homem retirou-se e disse aos judeus que fora curado por Jesus, por que fazia estas coisas nos sábado [quando pra eles era proibido]” (v. 15,16). Isso pode parecer estranho, mas por mais dolorosa que possa ser uma enfermidade, sempre tiramos proveito dela. Quando isso acontece não nos sentimos plenamente dispostos a abrir mão dela; não de todo coração. Queremos ser curados, mas, ao mesmo tempo não queremos. Ser curado implica em abri mão de todas as “vantagens” que aquela doença nos trás. Ai se estabelece entre você e a enfermidade uma relação de dependência que sabota todas as suas tentativas de mudança. Essa luta consigo mesmo pode ser intensa, ela divide e atormenta o coração, um conflito entre o desejo de ser saudável e livre e o de apegar-se a doença e às vantagens que se pode extrair dela.

Agora percebemos como aquelas palavras de Jesus eram pertinentes e como apontam para o papel decisivo da vontade humana no processo de cura. Jesus pede-nos algo difícil e radical (pois leva de um extremo ao outro doença X cura), o pedido em forma de apelo para a nossa vontade de crescer, de ter saúde e libertação. Quando essa vontade existe, o coração torna-se uma terra fértil no qual pode ser lançado a palavra de cura. Sem a disposição, sem a ação de colocar em prática os princípios de Deus revelados na palavra de Deus é impossível experimentar cura interior. Existirá, quando muito, uma “massagem espiritual” proporcionada por uma mensagem bonita, algumas expressões de fé e libertação momentânea de algumas emoções. Contudo, passando o “transe”, tudo continuará como antes.
Deus tem a palavra de cura para o seu coração, Sl 119.50 diz que o que consola o salmista é a palavra que o vivifica, pois ela tem capacidade para cicatrizar a ferida aberta e promover mudança na forma de encarar a vida, o mundo e nós mesmos, nos tornamos então saudáveis. Lembre-se que só quem tem o poder de curar pode ousar fazer aquela pergunta. Mas a boa semente depende de um bom solo para germinar e dar seu fruto, a palavra de Deus precisa encontrar um coração com VONTADE e FÉ para liberar todo o seu potencial de cura e renovação, se não como se diz em Hebreus 4.2 a palavra não vai se aproveitar pra nada.

“Queres ser curado?” pergunta-nos hoje Jesus, despertando as nossas mais profundas esperanças. Existe harmonia entre a minha vontade e a vontade do Senhor? A saúde da alma é o ideal de Deus para todos os seus filhos. A cura interior é uma herança que ele conquistou para nós na cruz. Todavia, para que ela se torne uma realidade em nossa vida, para que tenhamos um encontro com Cristo e saiamos transformados, curados, libertos, abençoados, a nossa VONTADE conta muito. “Buscar-me-eis e me achareis, quando me buscardes de todo coração” (Jr 29.13)


Marcelo Aguiar
Cura pela palavra

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